TODO BRASILEIRO PENSA EM FAZER ECONOMIA: ORÇAMENTO DOMÉSTICOMarly Célia Souza de Carvalho“Os bons hábitos são tão difíceis de largar quanto os maus” (Colleen Mariah Era) Segundo Ewald, (2003 p.7), “a economia doméstica é a administração das contas da casa”, ou seja, a forma como a família organiza o orçamento doméstico.
A idéia corrente que se observa é que o individuo busca de alguma forma encontrar um “formula mágica” para obter maior liberdade na hora de adquirir bens e serviços e realizar seus sonhos, tendo como base a renda disponível. Embora tenha dificuldade de guardar dinheiro e pouco conhecimento das possibilidades de planejar sistematicamente seu orçamento, declara que está preocupado com o nível de bem estar da família que fica cada vez mais comprometido.
O dinheiro deve ser visto como um meio de garantir felicidade e realização pessoal e não como uma fonte de aflição, sofrimento, angústia e preocupação. Por isso a educação financeira tornou-se importante e desperta tanto interesse nos dias atuais.
“Se você almeja uma vida financeira tranqüila, vai ter de analisar suas atitudes em relação ao dinheiro”. (VOCÊ S/A, 2003, p. 87) É exatamente neste ponto que dispara o alarme quando se precisa sacrificar desejos e estipular metas menores. Então a solução é assumir um controle maior das despesas, visto que a situação atual da maioria da população não permite gastar de forma irresponsável e volúvel.
As pessoas têm necessidades ilimitadas, porém a renda é limitada. Todo brasileiro tenta fazer economia e “esticar” sua renda, mesmo sabendo que esta não é elástica. As opções de escolha ficam limitadas, pois o acesso aos bens e serviços está condicionado ao montante da renda que o individuo dispõe, e diante das circunstâncias as opções nem sempre atendem aos interesses pessoais, pois, ao se adquirir algo, pelo limite imposto pela renda, abre-se mão de outro bem, o que nem sempre é fácil de se realizar visto os limites impostos pelo próprio mercado.
Considerando-se que, Economia é a ciência do bem estar que estuda a escassez dos recursos, visualiza-se nesta, a possibilidade de maior compreensão e orientação para que se possa dispor de uma vida onde não seja necessário renunciar parcial ou totalmente os bens e serviços com tamanho sacrifico, mas sim, criar situações que permitam a não desistência contínua dos desejos e sonhos, tendo a possibilidade de encontrar um equilíbrio entre receitas e despesas, ou seja, entre o que se ganha e o que se gasta.
O controle das contas domésticas está se popularizando cada vez mais, sendo que alguns indivíduos já o fazem com freqüência, outros o fazem apenas quando esboçam um projeto para o futuro enquanto outros vão simplesmente tentando fechar o mês da melhor forma possível.
As palavras chaves para êxito nestas situações são: planejar e controlar. Sabendo usar não vai faltar, mas para isso é necessário fazer uma análise minuciosa das rendas da família e de seus gastos, considerando todas as possibilidades, ou seja, as despesas fixas, as variáveis e as eventuais.
As conseqüências da falta de controle no orçamento doméstico são muitas, que vão desde a pobreza, endividamento em excesso, desperdício de recursos, estresse, entre outros. Alguns cuidados simples podem amenizar esta situação, e isto passa pela conscientização e esclarecimento sobre economia doméstica.
O que é Orçamento: “Previsão limitadora das quantias monetárias que devem ser utilizadas como despesas e receitas, ao longo de um período determinado, por um indivíduo ou por uma sociedade.” (YVES, 1998, p. 285) ou seja, pôr no papel as previsões ou intenções sobre as despesas (gastos) e as receitas (ganhos), podendo ser o registro para um mês, um semestre ou, para um ano.
O orçamento é um instrumento essencial na organização e planejamento do futuro. É um esforço de traduzir as pretensões individuais ou da família no controle das contas domésticas.
É importante que toda a família esteja envolvida neste propósito, sendo fundamental que a conversa sobre as finanças doméstica aconteça de forma aberta e direta, pois independente de quem seja responsável pela geração de renda no âmbito familiar, todos contribuem para gasta-la. A educação, nesse sentido, deve começar bem cedo (ainda na infância), gerando hábitos saudáveis que serão observados ao longo da vida.
“Criar um ambiente de cumplicidade entre os membros da família é muito importante. Só assim todos vão participar da elaboração dos objetivos e colaborar para atingi-los. O segredo é uma boa conversa sobre os objetivos e os problemas.” (EID JUNIOR, GARCIA. 2001, p. 24)
Como o salário é gasto: de forma geral, ele é usado para atender as necessidades individuais, fisiológicas, segurança, educação, saúde, inclusão em um grupo social, auto-estima, entre outros.
O processo de equilíbrio orçamentário pede que haja, entre outras coisas, um controle sobre os impulsos consumistas e uma administração permanente das contas da família, quer seja considerando o movimento normal de despesas como também considerando os gastos eventuais, que acabam pesando no orçamento, mas que em função de serem esporádicos deixam de ser registrados.
Existem outros “estímulos” para o consumo que devem ser combatidos, como a necessidade de se obter status e o apelo da mídia. E ainda existem os indivíduos que compram para compensar frustrações ou, para proporcionar aos seus filhos o que não tiveram, mesmo sem a renda suportar tal atitude.
Quando o gasto ultrapassa a renda as pessoas começam a se endividar, geralmente utilizando o limite do cheque especial e do cartão de crédito (que só deve ser usando dentro do prazo sem financiamento). Outras armadilhas comuns são os cheques pré-datados e os crediários, sendo que neste as pessoas se preocupam apenas com o valor da prestação, esquecendo de observar os juros incidentes. Embora no crediário se antecipe um benefício, (o acesso ao bem ou serviço), o custo nem sempre é benéfico para o orçamento familiar, que fica comprometido meses seguidos.
“... por trás da procura de um bem, produto ou serviço, encontra-se o preço que o consumidor está disposto a pagar; [...]. Nessa busca de retorno, satisfação e prazer, o custo de oportunidade é o quanto, material ou psicologicamente, pode custar mudar de atitude, sair de uma posição e entrar em outra.” (EWALD,2003, p.30)
Segundo Ewald, (2003, p.13) para se chegar ao Orçamento Doméstico será necessário passar por três fases distintas:- 1ª fase: Avaliação, na base do “chute”, do valor das despesas que a família acha que estão sendo feitas durante um mês;- 2ª fase: Acompanhamento e apuração no mês seguinte das despesas realmente efetuadas;- 3ª fase: Avaliação, programação de possíveis cortes e previsões dos valores que poderão ser gastos no mês seguinte.
Com base neste resultado será definido um modelo de Orçamento Doméstico, com acompanhamento e ajustes para melhor adequação de cada caso, especificações individuais que retratem as características de receitas e despesas de cada família, mês a mês. (tabela 01)Tabela 01) Controle do Orçamento Familiar
Mês:
Receitas
Prevista (R$)
Realizada (R$)
Salários
Outras Rendas (alugueis, serviços)
Saldo mês anterior
Total Receitas
Despesas Fixas
Aluguel/Condomínio/Prestação Casa
Diarista/Mensalista/Jardineiro
Prestação/Seguro carro
IPTU
IPVA
Seguro-Saúde
Educação/Cursos/Clube/Academia
Plano de Aposentadoria
Despesas Variáveis
Alimentação
Luz, Gás, Água
Combustível
Telefone Fixo/Celular/internet
Cartão de Crédito
Transporte
Despesas médicas/Dentista/remédios
Roupas/Calçados
Previsão para despesas eventuais
Outros
Despesas Arbitrárias
Cinema/Teatro/Boate
Restaurante/Barzinho
Cuidados pessoais (manicure, barbeiro)
Viagens
Outros
Total de Despesas
Resultado Final
Resultado Final = Total Receitas - Total Despesas
No registro do orçamento doméstico, define-se como despesa fixa aquelas que não vão variar muito pela utilização maior ou menor, as despesas variáveis são aquelas que dependem do uso e podem variar muito de acordo com a utilização, e as arbitrárias são aquelas que podem ser totalmente cortadas dependendo somente da opção da família.
A educação em economia doméstica mostra com clareza as vantagens de um controle nas finanças pessoais, inserindo o indivíduo em um contexto social, no qual ele atua e participa ativamente como cidadão consciente, pois os desvios individuais repercutem no todo, provocando distorções não só no âmbito familiar, mas também no âmbito social.A estrutura orçamentária de uma família brasileira tem suas despesas distribuídas da seguinte maneira, comparativamente a renda disponível: (EWALD, 2003, p.36)- 30% para moradia,- 25% para alimentação,- 12% para saúde e higiene pessoal,- 15% para transportes,- 8% para educação e cultura,- 5% para lazer, - 5% para gastos diversos.Esse percentual pode variar de acordo com a condição socioeconômica, sendo que famílias de baixo poder aquisitivo terão um percentual maior nos quesitos alimentação e moradia.
A revista Exame aborda a questão do mercado de baixa renda e o potencial que este representa. “Não por acaso, é no rico mercado dos pobres que está a oportunidade de crescimento vislumbrada por muitas das maiores corporações mundiais”. (EXAME, p. 38) . Essas corporações já estão preocupadas como chegar a essa camada da população de forma eficiente e rentável. Isso significa que as camadas menos favorecidas estão na mira daqueles que tentam seduzir o consumidor. Enquanto os indivíduos objetivam atender suas necessidades garantem o retorno para as empresas, aumentando significativamente suas receitas. “Os consumidores de baixa renda representam 77% dos lares urbanos e mais de 40% de todo o consumo no país.” (EXAME, p. 40).
Para que este nicho de mercado seja atingido é necessário que o consumidor tenha realmente interesse em interagir neste mercado, o que leva as empresas a investirem em produtos e serviços que possam seduzir o consumidor, e atuar junto à mídia que atua como um propulsor do consumo. Nestes momentos é que o orçamento doméstico ganha peso, pois se definida uma meta de consumo e esta não for abandonada pela beleza do marketing já é uma vitória a ser festejada.
O controle dos gastos exige muita disciplina e por isso é facilmente abandonado por muitas famílias, que se sentem frustrados a medida em que vão se dando conta que nada sobra, ou pior, que a cada mês falta uma quantia maior para equilibrar as contas da família.
De acordo com a Revista Exame, o perfil de consumo dos lares de classes C e da classe D pode ser agrupado de acordo com as necessidades, ou seja, 30% do rendimento mensal vai para alimentação, limpeza e higiene, 18% para habitação, 8% saúde e medicamentos, 6% eletrodomésticos e mobiliário, 5% vestuário, 4% alimentação fora de casa, 3% transporte, 3% lazer, 1% educação e ainda 16% outros.
Comparando esses dados com os apresentados de forma genérica por Ewald, observa-se uma especificação bem maior, e um peso diferente em diversos itens. Esses itens confirmam a afirmação realizada anteriormente, que o peso maior no orçamento dessas classes (C e D) está focado no comer e morar, ou seja, em primeiro lugar está a preocupação de sobrevivência, retratada no percentual para alimentação, moradia e saúde, sendo que os outros itens serão atendidos de acordo com os posicionamentos individuais. A educação representa muito pouco no montante dividido. O que justifica a preocupação atual em buscar orientação para a organização do orçamento doméstico.
Traçar metas e tentar se manter dentro delas é uma atitude de responsabilidade, o difícil é conseguir ser perseverante diante das possibilidades sedutoras que o mercado apresenta. Para isso é importante ter em mente sempre os objetivos traçados de comum acordo na família, e planejar-se de acordo com os rendimentos e os gastos.
A educação financeira começa a surtir efeitos quando se abandonam velhos hábitos de consumo e se incorporam novos procedimentos que levam a saúde financeira, beneficiando não só ao provedor da família, mas também a todos que passarão a usufruir opções conscientes que traduzam interesse comum.
O controle das finanças pessoais através do Orçamento Doméstico não deve ser visto como uma peça engessada, que gera desconforto ou ansiedade, mas sim uma ferramenta de apoio, na busca do equilíbrio orçamentário da família. Não traçar metas inatingíveis é a melhor solução.
O melhor seria guardar dinheiro para comprar à vista, não comprar por impulso, listar as necessidades e prioridades, fazer pesquisa de preços antes de adquirir qualquer bem ou serviço.
Propor-se a reduzir e cortar despesas de imediato é tarefa árdua e exige muita disciplina e força de vontade, por isso é importante mobilizar toda a família e conscientizá-la que esta pode ser a melhor opção para um futuro mais tranqüilo, portanto esta não pode ser uma decisão isolada e arbitrária. É importante que todos tenham consciência do peso que têm dentro das finanças da família.
Planeje seus gastos. Aperfeiçoe-se para aumentar a renda. Dê valor a qualidade de vida e faça escolhas inteligentes.
DICAS DE ECONOMIA DOMÉSTICA
· Elimine gastos que não são essenciais;· Pesquise melhores preços; · Aproveite eventos que são gratuitos ou com preços mais acessíveis. Existem inúmeras opções, tais como shows, concertos, visitas a parques, museus, galerias, teatros, etc. Informe-se;· Se você gosta de assistir a um bom filme, alugue um e convide os amigos;· Aproveite as liquidações das lojas. Ao final das estações você poderá comprar produtos de qualidade com preços bastante reduzidos;· Não compre por impulso; · Fique atento às ofertas em supermercados; · Faça uma lista dos produtos que você precisa antes de ir ao supermercado e procure comprar somente o que você colocou na lista;· Não faça supermercado quando estiver com fome;· Acostume-se a calcular o consumo semanal;· Comprar um produto de melhor qualidade, também é fazer economia; · Escolha às datas de vencimentos mais convenientes com a data de seu pagamento. Assim você evitará atrasos e multas;· Evite ter conta em vários bancos, pois isso dificulta a administração. Procure o que possui tarifas mais baixas e atenda suas necessidades;
Dia 21 de março - Dia Mundial da Economia Doméstica - O dia Mundial da Economia Doméstica foi proclamado pela Federação Internacional de Economia Doméstica em 1979. O lema desse ano é "Eficiente no cotidiano".
REFERÊNCIAS:
BLECHER,N. TEIXEIRA JR, S. O discreto charme da baixa renda. Revista Exame. São Paulo: Editora Abril, edição 802, n. 20, p. 36-48, 1/outubro/2003.
EID JUNIOR, W. GARCIA, F. G. Como fazer o orçamento familiar. São Paulo : Publifolha, 2001 – (Série sucesso profissional)
EWALD, L. C. Sobrou Dinheiro! : lições de economia doméstica. Rio de Janeiro : Bertrand Brasil, 2003.
___________. É por isso que o mundo não vira. Conjuntura Econômica. Rio de Janeiro: FGV, v.57, n.02, fev. 2003.
FRANKENBERG, L. Meu Dinheiro: você gasta demais?. Exame Você S/A São Paulo : Editora Abril,edição 63, set. 2003.
GUIA DE FINANÇAS PESSOAIS. Coleção Você S/A. São Paulo: Editora Abril. (Série meu dinheiro).
YVES, B.; COLLI, J-C. Dicionário internacional de economia e finanças: português, francês, inglês, alemão, espanhol.Tradução, Flávia Rossler, revisão técnica e adaptação, Lavínia Barros de Castro. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1998.
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