terça-feira, 13 de outubro de 2009

Por que não consigo guardar dinheiro?

Edição 48 - 5/10/2009

Com algumas mudanças simples na gestão do seu dinheiro, é possível reservar uma quantia para poupar.

O salário chega, eu pago as contas, o cartão de crédito e o cheque especial, mas sei que já tenho dívidas para o próximo mês. Comprei algumas coisinhas para as crianças, para a casa, mas aquele extra para a viagem de férias está cada vez mais longe e a poupança, quem sabe, no ano que vem. O discurso acima é uma constante na vida de muitas pessoas. Mesmo para aqueles com salários considerados bons, economizar dinheiro pode ser uma tarefa bem complicada. Afinal, poupar faz parte de uma educação financeira que muitos não têm. O Como Investir ouviu o educador e consultor financeiro Pedro Luiz Braggio e identificou algumas orientações para transformar a aparente façanha de economizar dinheiro numa rotina simples e lidar com instrumentos de crédito de maneira adequada. Se você faz parte desse time, acompanhe as orientações e comece já a colocá-las em prática.

Cartão de crédito

É um bom instrumento financeiro, mas requer muita atenção, porque dá a falsa impressão de que se tem mais dinheiro do que o saldo real disponível. Quando o dinheiro não é suficiente, a pessoa acaba gastando sem controle no cartão. “Nós brasileiros aprendemos a lidar com o dinheiro com nossos pais, de maneira precária e tendo em vista outra realidade: não havia crédito, a inflação era altíssima e quando o dinheiro chegava era preciso correr para o consumo antes de o preço subir”, lembra Braggio. Hoje compramos no cartão por impulso – se estamos tristes ou alegres demais e mesmo consumidos pela ansiedade. Deixar o cartão em casa pode ser uma boa estratégia para quem vê que está extrapolando seus limites de gastos ou para aqueles que sofrem do problema de não conseguir poupar.
O ideal do cartão é pagar o valor total da fatura e nunca pagar apenas o mínimo. Os juros do pagamento rotativo são muito elevados e podem acabar consumindo mais dinheiro do que se pode pagar. Outra dica é consultar a operadora do cartão sobre a melhor data para se utilizar o crédito. Todo cartão tem o “dia bom” para comprar, de forma que você vai adiar o pagamento de algum bem que precisa agora, para a fatura do outro mês e sem pagar juros. A meta deve ser sempre pagar o valor total da fatura daquele mês.

Cheque especial

Pode ser outra cilada para quem tem dificuldade de poupar. O principal erro cometido por muita gente é agregar o limite do cheque especial ao salário ou ao saldo da conta bancária. Somam os dois valores e acham que têm todo aquele dinheiro para gastar no mês. Mas se esquecem de que o cheque especial, como o cartão de crédito, cobra juros na casa dos 10%. “Pior ainda é aquele que gasta no cheque especial e ainda pega um pouco do cartão de crédito, o que vai virar uma bola de neve”, alerta o educador Braggio. A sugestão dele é que o salário deve ser depositado em uma conta-salário que sirva somente para este objetivo: receber o salário mensal e pagar as contas. Quando as finanças estiverem equilibradas, ele pode solicitar outros produtos e instrumentos de crédito que os bancos oferecem, tais como o cheque especial e o cartão de crédito. O cheque especial, como o próprio nome diz, deve ser usado apenas em situações especiais, emergências financeiras, e nunca se tornar uma constante do orçamento doméstico. É bom lembrar que, na hora de pagar os juros, o banco desconta-os do saldo conta-corrente, imediatamente. É interessante conversar com o gerente e pedir para diminuir o limite do cheque especial se a situação estiver descontrolada, ou então negociar uma possível diminuição da taxa cobrada.
Poupar

A mais indicada aplicação financeira para iniciantes são os fundos DI. E você só vai conseguir guardar algum dinheiro por mês se souber exatamente quanto gasta. Pedro Braggio aconselha comprar um caderninho e anotar tudo, desde a conta de luz até um doce comprado na rua. “É legal anotar o que foi comprado ou pago com juros para a pessoa perceber onde está jogando dinheiro fora”, afirma o especialista. Esse controle deve ser feito durante pelo menos dois meses para que você tenha um quadro geral dos seus gastos. Depois deve-se começar a fazer os ajustes necessários e seguir apenas com a manutenção (mas sempre anotando os gastos e a renda). Percebendo os limites e erros, é mais fácil evitá-los. Braggio sugere sempre guardar um pouco do salário, independente de quanto. “Você pode começar com R$ 50 ou R$ 100 na poupança e ir se acostumando ao hábito de poupar”, ensina. Conforme for percebendo que pode viver com menos, gastar menos ou eliminar pagamentos de juros desnecessários, vá aumentando o valor e tomando gosto pela prática de poupar. Acredite: você vai gostar de poupar dinheiro. O próximo passo, quando o valor acumulado for algo acima de R$500, é diversificar e aplicar uma parcela em produtos financeiros considerados de maior risco, mas sempre com cautela. “Mas é bom não sacar o dinheiro para aproveitar as promoções do final de ano e comprar um celular de última geração que vai estourar o seu orçamento novamente”, alerta Braggio.

À vista e a prazo

Comprar à vista é sempre o melhor negócio e existe uma arte nisso também. Quando o vendedor diz que não tem desconto à vista e o preço é igual ao financiamento em dez vezes, você pode desconfiar. O preço é sempre melhor à vista. Se insistir, você vai conseguir um bom desconto. As lojas ganham nas compras a prazo com os juros embutidos nos financiamentos. “Para a empresa o crediário é muito bom, mas para o consumidor é péssimo”, diz o consultor Pedro Braggio.

Se, no entanto, a compra é de um bem durável, de valor maior, e terá que financiar, a recomendação é fazer com o menor número de parcelas possível. Também não se deve acreditar em tudo o que aparece na TV: juros baixos, financiamentos a perder de vista. É preciso saber com clareza qual a taxa de juros que será cobrada todo mês e se o bem desejado é o mesmo oferecido na loja. Financiamentos muitos longos podem complicar a situação de quem tem uma mudança no padrão de renda, como a perda do emprego. Nesse caso, o que fazer com todas aquelas parcelas? É bom pensar nisso também antes de assinar um contrato de crédito de longo prazo. Talvez economizar uns três ou quatro meses para comprar à vista seja uma saída melhor.

Viagens, consumo e lazer

O dinheiro do lazer deve seguir o mesmo princípio da poupança. Destinar uma pequena parcela mensal e conversar com a família para apurar os hábitos e desejos de todos. “Você pode dizer aos filhos que tem R$ 200 mensais para lazer da família e ensinar que, se gastarem tudo em um final de semana, aquela cota acaba”. Mesmo quando o momento ainda é de tentar equilibrar as finanças, o lazer não deve ser abandonado. Ele funciona como uma bateria, que vai dar disposição para resolver a dívida, trabalhar e ser mais feliz.

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Controle de Gastos
Quanto Poupar

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